100 anos da Casa do Alentejo

 100 anos da Casa do Alentejo

A Casa do Alentejo, em Lisboa, está instalada num palacete do século XVII. (lisboasecreta.co)

A Casa do Alentejo, em Lisboa, está a festejar 100 anos de vida. E comemora tão longa e bonita idade com o cante das suas gentes, que é Património Cultural Imaterial da Humanidade.

(Direitos reservados)

O reconhecimento da UNESCO, decidido em Paris a 27 de Novembro de 2014, distingue o trabalho, o amor, a contemplação e a saudade. Tal qual ficou patente com o desfile de Grupos Corais da Diáspora pelas ruas da Baixa e do Chiado no dia de ontem (24 de Setembro).

Fundada no dia 10 de Junho de 1923, a Casa do Alentejo tem cumprido, a preceito, a sua missão de dinamizar, de preservar e de promover a cultura alentejana.

A escultura comemorativa da efeméride, assinalada como “Uma Fonte de Amizade”, da autoria de Jorge Pé-Curto, recentemente inaugurada, o lançamento de um livro sobre a Casa e a realização de um grande espectáculo de encerramento, intitulado “É tão grande o Alentejo”, constituem os pontos altos das comemorações, que se prolongarão até ao final do ano.

João Proença, ao meio na foto, preside à da Casa do Alentejo, há vários anos. (jornalaltoalentejo.sapo.pt)

Confesso: é ao número 58 da Rua das Portas de Santo Antão que sempre vou quando arribo a Lisboa, pois, nunca me canso de admirar a beleza revivalista das suas decorações interiores e as obras dos artistas e artesões Benvindo Ceia, Domingos Costa, José Ferreira Bazaliza e Jorge Colaço, que deram nova vida ao antigo Palácio Alverca e que, antes de ser a Casa do Alentejo, acolheu um liceu, um armazém de mobiliário e o Magestic Club – um dos primeiros casinos da capital.

O palácio apresenta um planta quadrangular e três pátios (um dos quais veio a ser fechado dando origem à actual “Sala Velez Conchinhas”, que é, hoje, a sala de refeições do palácio que pertenceu à família Paes de Amaral, que o mandou construir no fim do século XVII. No interior, existem elementos de azulejaria, com destaque para as salas do restaurante. Contém peças neogóticas, neo-árabes, neo-renascentistas, neo-rococós e de Arte Nova, assim como elementos do Barroco.

João António Honrado foi um destacado militante comunista e deputado na Assembleia Constituinte. (radiopax.com)

Além destes predicados, a Casa do Alentejo tem ainda dois outros que são fundamentais para mim: a boa gastronomia que serve no seu restaurante e no “Pátio Manuel da Fonseca”, nome maior do neo-realismo; e, sobretudo, amizade que me liga ao presidente João Proença e a Rosa Honrado Calado, sobrinha do exemplar cidadão antifascista que foi João António Honrado, jornalista, escritor e deputado à Assembleia Constituinte, pelo Partido Comunista Português (PCP).

Militante comunista durante seis décadas, João Honrado teve teve um papel fundamental nas crises académicas de 1958 e de 1962, em Coimbra; e em várias greves operárias na zona do Porto e dos pescadores de Matosinhos, em 1959. João Honrado, que foi libertado após o 25 de Abril, faleceu a 3 de Março de 2013, aos 84 anos de idade, no Hospital de Beja. É dele que sempre me lembro quando invoco um homem bom.

.

25/09/2023

Siga-nos:
fb-share-icon

Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

Outros artigos

Share
Instagram