Querida Marta Jorge,

Desculpe que a trate assim. Não a conheço de lado algum, mas somos ambos jornalistas e eu reconheço-me, profissionalmente, na reportagem sobre as reformas de miséria que recentemente assinou e passou na RTP 1.

Por não a conhecer nem nunca ter ouvido falar de si, deduzo que seja uma jovem jornalista. Fui à procura de informações sobre a Marta Jorge, nomeadamente na Internet, mas o que encontrei com esse seu nome não é garantido que seja da jornalista que assinou aquela reportagem.

Eu, velho jornalista ainda formado na velha escola da notícia, um daqueles que abandonou um curso superior para fazer jornalismo quando ainda não havia cursos superiores de jornalismo, eu fiquei incomodado com a sua reportagem.

O bom jornalismo incomoda e essa reportagem que passou na RTP 1 e na Euronews é, sem dúvida, uma boa reportagem, uma daquelas que qualquer dos seus pares gostaria de assinar. Com um impacto maior por ter passado num canal aberto de televisão como é o primeiro canal português. Não é só no cinema, nem na literatura ou na pintura comprometidas com as transformações sociais que há neo-realismo. Na televisão portuguesa pode igualmente existir essa marca, uma marca que eu, orgulhosamente, muitas vezes reclamei para o Jornal de Noticias, onde trabalhei 28 anos.

Também não é por acaso que o postal que lhe envio reproduz o “Almoço do Trolha”, um quadro de Júlio Pomar que é também uma das grandes obras do neo-realismo português. Estou certo que apreciará.

Fraternalmente,

Júlio Roldão

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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