A quinta geração

 A quinta geração

James Yarema (Unsplash)

Neste mundo cada vez mais tecnológico em que vivemos existe uma forte tendência para mistificar certas tecnologias, conferindo-lhes propriedades de que não gozam e vaticinando-lhes futuros visionários, quase proféticos. São exemplos a inteligência artificial, a blockchain e as redes 5G. É sobre esta última que falaremos hoje.

A cada dez anos, mais coisa menos coisa, as redes móveis celulares (cujo nome decorre do facto de estarem organizadas em células, ou zonas, cobertas por uma determinada antena) têm sofrido melhorias tecnológicas significativas. Podem, assim, identificar-se cinco gerações distintas deste tipo de redes, que passaremos a descrever em termos muito simples.

Na década de 1980 surgiu a primeira geração de redes celulares, centrada num único serviço: as chamadas de voz. Com estas redes, os utilizadores libertaram-se da necessidade de usarem um terminal fixo para aceder à rede telefónica. Cerca de dez anos mais tarde surgiram as redes de segunda geração, denominadas redes 2G, inteiramente digitais, que, para além do serviço de voz, disponibilizavam dois serviços altamente inovadores: o serviço de mensagens – short message service, SMS – e um serviço de transferência de dados, com velocidades até 64 Kbps (64000 bits por segundo). No entanto, a rápida evolução da Internet e a consequente necessidade de velocidades maiores levaram ao desenvolvimento, na década de 2000, das redes de terceira geração, 3G, com suporte de velocidades até 2 Mbps (2 milhões de bits por segundo), o que possibilitava a utilização de aplicações de áudio, dados e vídeo. Por volta de 2010, as redes 4G passaram a disponibilizar débitos até 1 Gbps (1000 milhões de bits por segundo) e a funcionar com base nos protocolos da Internet.

A quinta geração das redes celulares está, presentemente, a ser colocada em funcionamento comercial em muitos países, estando disponível nalguns países desde 2019. Três fatores essenciais distinguem-na da geração anterior: velocidades de comunicação muito mais elevadas, que poderão atingir os 10 Gbps (10 mil milhões de bits por segundo), atrasos de comunicação e de acesso aos serviços extremamente reduzidos (inferiores a 1 milésimo de segundo) e elevada capacidade, quer em termos de volumes de tráfego quer em termos de número de utilizadores simultâneos.

As redes 5G não têm, assim, nada de mágico ou sobrenatural. Não são responsáveis pelo aparecimento do corona vírus nem serão a panaceia para todos os males. São, como no caso de qualquer outra tecnologia, uma ferramenta capaz de nos fornecer serviços, cuja utilização e utilidade depende de nós, humanos. Além disso, dado o investimento elevado que exigirão, os custos de utilização não serão baixos e muitas aplicações só serão desenvolvidas a prazo, à medida que a procura e a oferta o permitirem. Entretanto, a mistificação do 5G só serve um propósito, claramente comercial: o marketing. Como em quase tudo na sociedade de consumo, cabe-nos definir o equilíbrio entre necessidade e moda, e fazer da quinta geração das redes celulares não um sinal de status mas, sim, um instrumento para o desenvolvimento.

12/01/2021

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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