Cada um compra as suas guerras

 Cada um compra as suas guerras

Vice-almirante Gouveia e Melo (DR)

Para não correr o risco de extrapolar regras ou de criar “casos únicos”, resumo-me muitas vezes à experiência individual. Obviamente não servindo de exemplo, é pelo menos uma situação pela qual deverei responder, presumindo-se que a maior quota da responsabilidade me há de caber – como cabe a cada um a da sua experiência.

Neste contexto particular, talvez tenha nascido não com um instinto negativo mas com uma enorme tendência para dizer “não”. Se é para responder, para dizer, para decidir já, então “não”, “vá à sua vida”; depois, talvez, provavelmente até, será sim. Mas já com tempo de assumir a responsabilidade de aceitar. Tanto tempo que permite até “desculpar” por um primeiro, e talvez abrupto, “não”.

A Educação a vários níveis fez um esforço inexcedível para me ensinar a dizer que sim. Sobretudo a várias formas de autoridade. E eu disse, muitas vezes concordando efetivamente. Outras, nem por isso.

Mas a “raiz do pensamento” é profunda e, eventualmente, um ser humano torna-se uma pessoa competente, capaz de gerir cada “sim” e cada “não” que tem que dizer com os que quer dizer; e é cada vez mais completo se cada resposta é consciente e dada depois de beber dessa raiz, que a Educação não deve quebrar, apenas deixar florescer.

O “sim” mais instintivo que já tive foi à vacina contra a COVID-19. Não foi abrupto, foi “sim, quando houver”; depois foi “sim, quando chegar a minha vez”. Agora é só “sim”, porque a minha oportunidade (mais uma vez, para quê falar de direito ou de dever?) tarda em chegar.

De 72 em 72 horas, lá estou eu, fiel, no portal do autoagendamento, a marcar. Desde o dia 1 de julho, sem nunca receber o “OK” final. Entretanto, já liguei para SNS 24, centros de saúde, médicos, enfermeiros… Até que me disseram para pedir ajuda no próprio centro de vacinação… Mas a primeira regra não era “não se dirija ao centro sem vacinação sem marcação”?

Enfim, sem explicações além de “tem que aguardar”, a informação nos media dita a abertura da vacinação para cada vez mais jovens e que vamos estar todos (diz que eu também) vacinados no final do verão… Mas afinal só com uma dose. Mas afinal as vacinas tardam a chegar. Mas afinal só estamos vacinados em setembro. Mas AFINAL muitas pessoas vão aos centros de vacinação e são vacinadas sem marcação.

Na semana passada, no cantinho de um artigo, li que o coordenador da task force do Plano de Vacinação contra a COVID-19 terá dito que “a frustração” dos jovens “não deve ser contra o processo de vacinação, mas sim contra a quantidade de vacinas disponíveis em território nacional”. Em junho, assumiu-se “impiedoso com os malandros”.

Ao vice-almirante Henrique Gouveia e Melo já disse muitas vezes que sim. Hoje a resposta é não.

O “horizonte” da “frustração” dos jovens é uma guerra que não lhe compete. O processo de vacinação (mesmo incluindo variáveis fora do seu alcance, a encaminhar para os devidos responsáveis) e as “malandrices” de ganhar vez sem confirmação no agendamento talvez sejam.

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Patrícia Troca

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