Língua, “chão da nossa alma”

 Língua, “chão da nossa alma”

Singapura

Nestas mãos cheias de vida já acumulei passagens por umas dezenas de países e rotas traçadas, quase tantas como os anos que conto como meus. Tal como Pessoa “cada vez que viajo, viajo imenso.” E é certo que cada jornada é uma descoberta única, mas com uma premissa comum; a narrativa começa sempre com “Uma Portuguesa em … “. Indiscutivelmente é impreterível a questão sobre a minha origem. É então que começo a proclamar a Lista, qual Ode ao meu país, sobre o que representa e como eu traduzo Portugal, um país tão único como também o seu legado.

E, mediante a geografia falar-se-á da Lusofonia, da língua, da cultura e dos valores. Mas, na realidade, a visão do mundo já não obedece a essa lógica de unidade, como no tempo da Epopeia dos Descobrimentos, pois a globalização trouxe diversas interpretações sobre as verdades e as identidades nacionais.

Falar da Lusofonia exige um exercício de análise para além do sentido estrito da palavra. Lusofonia, como espaço geolinguístico formado por um conjunto de identidades culturais, em que a língua portuguesa é oficial ou materna; é para além de mais a memória de uma história em comum.

Sim, nem sempre uma história feliz, mas urge ter esperança e acreditar que o espaço agora delineado é de cooperação e aceitação.

Recordando Mia Couto, sobre a língua portuguesa, dizia ele que nos liga ao tempo, à raiz dos nossos antepassados, mas que essa língua é também “um assunto delicado, sensível” porque é o “chão da nossa alma”.

Evidentemente, a figura e comunidade lusófona remete-nos para um imaginário da diferença e da pluralidade representando o que é diferente e diverso. A mistura de raças, de etnias e tradições.

Este conceito inscreve-se no discurso e debate sobre a globalização, que acarreta uma ideia de indivíduos movéis, competitivos, audazes e capazes. No entanto, esta mesma ideia é igualmente alimentada por uma paixão, com afeto e cariz sentimental e visível também nos lóbis económicos, estratégicos e políticos.

E de volta ao ponto de partida. Fora de Portugal há década e meia forço-me a identificar-me mais com as raízes históricas do meu país, a esta identidade especial que é a lusófona.  

E porque a inclusão de Portugal, no mundo global, tem de ser feita no quadro do espaço geográfico da Lusofonia faz todo o sentido que o diálogo seja bilateral e constante, porque afinal o todo é ainda maior que a soma das partes.

E deixo as memórias …

Quando em Honolulu comi as melhores malasadas (bolas de Berlim) de sempre.

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Daniela Romão

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