Reitora da Universidade do Rio de Janeiro lança S.O.S.

 Reitora da Universidade do Rio de Janeiro lança S.O.S.

Denise Pires de Carvalho, reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Uma das mais importantes universidades públicas brasileiras fechará as portas em dois meses. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um organismo com 60 mil alunos, 4.300 docentes e 5.600 técnicos, já não tem como pagar as contas de segurança, limpeza, eletricidade e água.

Em declaração ao sinalAberto, a reitora, Denise Pires de Carvalho, esclarece que o orçamento destinado às universidades federais para 2021 é igual ao de 2004, mesmo com o dobro de estudantes. A UFRJ recebeu apenas metade do orçamento previsto para 2021, e se o cenário não mudar vai suspender as atividades daqui a dois meses.

Perante tal cenário, “precisaremos fazer escolhas para evitar o fechamento total, o que será péssimo”, avisa a reitora, especificando que, se assim for, “pesquisas terão que ser interrompidas, o retorno presencial será atrasado e alguns leitos hospitalares serão fechados em plena pandemia”.

Denise Carvalho entende ainda, que o investimento em educação, ciência e tecnologia deveriam ser projetos do Estado brasileiro. Sublinha, de resto, a sinalAberto, que a universidade que dirige “nunca obteve efetiva autonomia financeira, infelizmente, porque sempre dependemos dos governos para o nosso funcionamento”. Pelo contrário, enfatiza, “as universidades estaduais paulistas têm orçamento anual garantido por decreto do governador, de 1989, que destina percentual específico dos impostos, o que constitui o principal motivo de serem as melhores universidades brasileiras”.

Neste contexto, a reitora da UFRJ lamenta afirmar que “sentimo-nos muito fragilizados como instituição que nem sequer pode planejar seu futuro no curto prazo e fazer investimentos para garantir funcionamento no longo prazo. A pesquisa científica — salienta Denise Carvalho — é o motor do desenvolvimento da nação e deve ser interesse de toda a sociedade. Como realizar o sonho da vacina brasileira se não conseguimos pagar nossas contas de luz e água?…”

Adeus ao futuro

A sanitarista Ligia Bahia, professora e pesquisadora em saúde pública da UFRJ, reforça o cenário de gravidade e o impacto negativo que corte de verbas vai implicar nas atividades que vinculam a pesquisa com o atendimento em saúde, pois é daí que vem boa parte de experimentos e vinculação às inovações internacionais.

Denise Pires de Carvalho,, reitora da UFRJ.

“Teremos um prejuízo imediato pois perderemos nossa autonomia e capacidade de pensar nossos problemas, refletir sobre eles e propor soluções adequadas”, explica Ligia Bahia, antecipando outros prejuízos graves: “perderemos também as pontes que existem com pesquisadores de outros países, ao mesmo tempo que estamos dando adeus ao futuro, no qual a juventude se inscreve e se insere para pensar e produzir um novo Brasil”.  

Ex-aluno que se tornou professor, Richarlls Martins aponta que o impacto desta restrição orçamentária está para além do visível e mensurável. “A UFRJ ressignifica vidas, minha trajetória cidadã, assim como de população negra que passou por ela, não seria a mesma se não tivesse tido uma oportunidade nesta instituição pública”, explica Richarlls Martins.

Considera, ainda, que “este desfinanciamento das universidades públicas é um projeto de aniquilamento de sonhos, em suma, é deixar morrer a chance de construir um país menos injusto, mais sustentável e igualitário.”

Nesta sexta-feira (14) está marcado um ato público às 17h, no centro do Rio de Janeiro, convocado pelos estudantes para condenar o corte no orçamento.

“Sentimo-nos muito fragilizados como instituição que nem sequer pode planejar seu futuro no curto prazo e fazer investimentos para garantir funcionamento no longo prazo”

Vacina no olho do furacão

Desde o anúncio do fechamento que duas palavras surgiram com força nas redes sociais brasileiras: sucateamento e desmonte. Elas vêm atreladas noutras expressões preocupantes, como época brasileira do obscurantismo, ódio brasileiro à Ciência e asfixia das instituições públicas de ensino.

Não é caso para menos. Da UFRJ fazem parte nove hospitais e unidades de saúde, 13 museus, mais de 1.450 laboratórios, 45 bibliotecas, e muitos centros de pesquisa, como os que trabalham atualmente nas duas vacinas brasileiras contra a Covid-19 que estão sendo desenvolvidas e estão em fases de testes pré-clínicos, que podem ser comprometidos com o corte.

Num artigo publicado esta semana no jornal Globo, assinado em conjunto com o vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha, a reitora detalha a crise após bloqueio de verba: “Desde 2013, o orçamento das universidades vem sendo radicalmente cortado. O orçamento discricionário aprovado pela Lei Orçamentária para a UFRJ em 2021 é 38% daquele empenhado em 2012. Quando se soma o bloqueio de 18,4% do orçamento aprovado, como anunciado pelo governo, seu funcionamento ficará inviabilizado a partir de julho. A universidade fechará suas portas por incapacidade de pagamento de contas de segurança, limpeza, eletricidade e água. O governo optou pelos cortes e não pela preservação dessas instituições. A universidade nem sequer pode expandir a arrecadação de recursos próprios, pois não estará garantida a autorização para o gasto.”

Estas palavras de alarme e de pedido de socorro da reitora Denise Pires de Carvalho, no jornal O Globo, surgem 90 dias após a publicação, naquele jornal, de uma reportagem sobre a eleição da UFRJ como a melhor universidade do país.

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Vilma Reis

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