Todo o mundo é composto de mudança

 Todo o mundo é composto de mudança

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Se há algo que consegue inspirar sentidos contraditórios então pode ser descrito pela palavra ‘revolução’. As revoluções inspiram pânico e, ao mesmo tempo, atraem-nos, fazem-nos avançar. Ao longo da história da Humanidade muitas foram as revoluções e em todas se fizeram ouvir os profetas da desgraça. Também foi e é assim com a revolução gerada pelas tecnologias da informação e comunicação (TIC).

Um dos maiores receios associados às TIC era, e ainda é, o da destruição de empregos. É certo que as TIC conduziram a uma alteração radical das formas de trabalhar, do mercado de trabalho, das economias nacionais e mundial, mas não é menos certo que geraram milhares de milhões de empregos. Mesmo os tipos de trabalho que, em primeira análise, se antevia que sucumbissem às TIC acabaram por beneficiar delas, ao permitirem o alargamento a mercados até aí inacessíveis. Na prática, rigorosamente tudo o que fazemos hoje utiliza e/ou beneficia das TIC, algo que era impensável até para o mais otimista dos seus defensores.

O tempo e a História se encarregarão de provar que uns e outros estão errados

Mas agora, com o advento de sistemas autónomos, inteligentes, com capacidade para analisarem e reagirem ao contexto, novos arautos levantam as suas vozes profetizando o domínio da máquina sobre o Homem, o fim do Mundo, o anunciado apocalipse. Outros não chegam tão longe, mas dizem, com muita falta de originalidade histórica, que estão em causa postos de trabalho. O tempo e a História se encarregarão de provar que uns e outros estão errados. O desenvolvimento tecnológico sempre gerou oportunidades, e há muito que sabemos que aproveitá-las é a única forma de sobreviver.

É claro que qualquer revolução acarreta desafios e no caso das TIC são vários, sendo os mais comuns a atualização e adaptação constantes, e a necessidade de aprendizagem continuada. É impossível saber se isto resultará no desaparecimento desta ou daquela profissão (muitas das que se dizia que desapareceriam com as TIC ainda aí estão e até mais fortes). O que, sim, se pode esperar é que muitas outras serão criadas.

Não sejamos, pois, mais um “velho do Restelo”

A alteração da natureza e tipo de trabalho é algo que não deveria assustar ninguém. A nova revolução tecnológica proporcionada pelos sistemas inteligentes não deixará, é certo, de ser um desafio, mais uma mudança, mas já o grande Luís Vaz de Camões dizia que “todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. Não sejamos, pois, mais um “velho do Restelo”, que desses já estamos fartos.

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06/06/2018

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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